Amem (do verbo “amar”)



Nunca fui um cara de fazer loucuras de amor, declarações em público, manifestações extremas de romantismo ou mesmo de largar tudo em nome de um relacionamento. Na verdade eu sempre achei um tanto chato ter posturas assim. Nem mesmo flores, chocolates diferentes e cartas de amor enviava. E na verdade estava muito feliz, e cômodo, deste modo dentro do meu atual relacionamento, sem precisar ficar repetindo “eu te amo” a todo momento.
Já eram uns 7 ou 8 meses de namoro que pareciam fluir muito bem. Ela era uma pessoa adorável, romântica na medida certa, compreensiva, companheira. Nenhum amigo poderia dizer “começou a namorar e sumiu, hein...” exatamente porque praticamente mantive todos os meus hábitos. Nossos 6 anos de diferença de idade não impactavam tanto: nossos horários batiam.
Eu tinha a namorada que assistia Game of Thrones comigo e que assim como eu fazia questão de não ler os livros. A namorada que chegava em minha casa com um engradado de Brahma, alguns baseados, pacotes de Doritos e toda a disposição de falar “vamos chamar os amigos pra brincar no Kinect”. Enfim: em 27 anos eu tinha tudo o que queria para ser feliz. Estava sendo feliz.
Até que um dia ela foi embora.
Assim, sem mais nem menos, me largou. Não quis conversar, não quis explicar, não quis dar desculpas. Disse apenas que acabou. Deletou facebook, largou o twitter às moscas, desinstalou o Whatsapp, não respondia sms e meus telefonemas sempre caíam na caixa postal. Nem tinha como eu correr atrás dela.
Nossas brigas eram muito raras e sempre por bobagem. Nada que uma noite juntos não resolvesse. Era difícil a gente discordar um do outro em alguma ideia. Até onde eu sabia, o que mais a irritava era minha mania de ir andando até a casa dela em 40 minutos em vez de pegar um ônibus e chegar em 5. Mas fora essas pequenas coisas, nada demais. Já falávamos de viajarmos juntos a Buenos Aires daqui uns meses. E tudo isso agora ficou apenas nos planos.
Chorei, bebi, fumei. Sempre sozinho, por dias e por semanas. Aos que perguntavam, eu dizia estar bem. Fui tentando viver, tentando enganar a todos de que estava bem. Mas a verdade é que nunca havia me sentindo pior e por isso eu evitava tudo que me lembrasse ela. Sem bares, sem Netflix, sem mesmo o caminho que me levava à sua casa. Era minha defesa, minha forma de me proteger de toda dor que eu tinha.
Talvez dois ou três meses depois eu já estava me sentindo bem. Não, as coisas ainda não estavam em seu lugar e eu seguia sem nenhuma notícia dela.
6 meses depois de tudo eu já estava super bem. Praticamente não lembrava do que era sofrer por amor. Voltei a fazer tudo o que fazia.
Mais ou menos por essa época eu notei que ela tinha reativado o seu Facebook. Nenhuma postagem, nenhuma foto, nadinha. Apenas estava aparece online naquela barrinha lateral. Pensei em clicar, em dizer “oi, tudo bom?”, em ver como ela estava. Não fiz. Achei melhor deixar pra lá.

Então me veio um estalo: sim, eu tinha algo muito importante a perguntar pra ela. Uma dúvida que tinha ficado na minha cabeça durante todo esse tempo e que eu precisava resolver. Criei a coragem necessária, abri a janelinha e mandei: “Olá! Me diz: por acaso meu iPod ficou aí na sua casa? Se sim, pede pro seu irmão deixar lá em casa esses dias”. Ela respondeu com “ok”.
Agora estou aqui, com outra namorada perfeita, com meu iPod e até mesmo sendo romântico, fazendo loucuras de amor e dizendo “eu te amo” o máximo possível, porque no fim das contas eu sei, e sempre soube, que foi a minha falta do romantismo que a fez me largar. 

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